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Pânico em Marrocos com dunas do deserto a moverem-se a uma velocidade nunca vista.

Homem e criança varrem ao lado de estrada deserta, camião ao fundo levanta poeira, dunas e casas em volta.

As equipas de manutenção rodoviária, já sobrecarregadas por orçamentos de tempos de seca, foram chamadas duas vezes numa noite para libertar a mesma curva. As dunas estão em movimento, mais depressa do que as pessoas conseguem varrer.

O vento estava parado quando o café abriu, uma luz ténue sobre o Erg Chebbi como pó de giz. Karim, o proprietário, passou a escova pelo degrau e suspirou ao ver os grãos deslizarem de volta num rio sem fim. Um rapaz tentou pôr uma motorizada a trabalhar de empurrão. Os pneus giraram, a areia sibilou, e algures por trás da aldeia um bulldozer tossiu ao ganhar vida.

No limite da localidade, uma crista que os habitantes juram que antes ficava bons cem metros longe inclina-se agora sobre um muro baixo. Sente-se nos dentes, este movimento insidioso. A duna não vai esperar.

Uma paisagem viva de repente em avanço rápido

Aqui as pessoas conhecem a areia. Sabem como se esgueira pelas frinchas e cobre campos apesar de todas as cercas e preces. Isto é diferente, dizem. Dias em que o vento começa como boato e transforma-se em rugido à tarde, só para parar subitamente ao pôr do sol e deixar atrás de si uma nova geografia.

Os lojistas contam-me que estão a prender os toldos com sacos de tâmaras. Os condutores fazem fila onde a estrada se desvia junto a um lugarejo, a ver uma máquina niveladora atacar o mesmo monte que desimpedira no dia anterior. O pânico não é drama, é prático: quem vai ao posto de saúde se o caminho desaparecer até de manhã? Penso vezes sem conta: será que o deserto está a acelerar?

Em M’Hamid, uma guia chamada Noura mostrou-me um timelapse no telemóvel. Uma duna barcano que mal chegava a roçar num marco de pedra no inverno passado já toca agora a beira de um jardim. Voluntários com um drone de hobby mediram a crista a avançar vários metros em dois dias após um aguaceiro a meio da semana. Algumas semanas, as equipas municipais dizem que já limparam areia da N13 mais de uma dúzia de vezes, quando um mês “movimentado” antigamente significava cinco ou seis passagens. Parece pouco, até se viver debaixo disso.

Um motorista de autocarro de Zagora disse-me que antes saía às 6 da manhã e chegava antes do meio-dia. Agora, reserva duas horas extra, leva pá e cabo de reboque e envia mensagens de voz a amigos sobre “a duna junto ao cipreste azul”, como se fosse um vizinho que mudou de casa de um dia para o outro. Nos piores dias, a areia não sopra apenas. Rasteja.

Porquê agora? Pergunte aos mais velhos e dirão que o vento mudou de hábitos. Menos longas acalmias, mais rajadas bruscas vindas de nordeste, e uma primavera mais quente e seca que alguém recorde. Geógrafos apontam uma mistura: as rotas de tempestades desviadas para sul, leitos de rio secos que libertam areia, e o esboroar silencioso de crostas que antes seguravam o solo.

Junte os humanos à receita. Trilhos populares de jipes à volta do erg soltam a camada superficial; novas pensões arrancam mato para “limpar” a vista; e os cortaventos de pomares abandonados após colheitas fracas deixam os campos a descoberto. Um investigador com quem falei evita grandes declarações, mas admite que o padrão é invulgar. Fenómenos de vento que eram raros numa estação agora ocorrem em série. As dunas seguem o ritmo do vento.

Como Marrocos está a adaptar-se em tempo real

Há uma solução simples que funciona: quebrar o vento antes que ele lhe quebre a si. Barreiras baixas e permeáveis—sebes de ramos, palmas de tamareira, até esteiras de cana usadas—abafam o vento só o suficiente para que a areia caia onde escolher, não onde lhe apetece. Mantenha-as à altura do joelho, em fiadas desencontradas, e ofereça às areias uma armadilha bem antes da sua porta.

Plantar ajuda, mesmo quando a água é pouca. Tamarisco e caligonum sobrevivem com pouco e entrelaçam raízes que costuram a areia. Deixe um ou dois metros entre fileiras para o vento não encontrar uma rampa contínua. À escala de uma casa ou rua, o pequeno é poderoso. É tentador construir um muro alto de betão; com rajadas, pode criar redemoinhos que depositam montes mesmo atrás do muro.

Sejamos honestos: ninguém realmente varre e reconstrói cercas todos os dias. Não faz mal. Torne a rotina pequena e repetível—dez minutos ao amanhecer, dez ao anoitecer—e conte com vizinhos quando o vento aumenta. Todos já tivemos aquele momento em que a porta não abre e o coração dispara; uma vassoura partilhada e uma gargalhada aliviam o medo.

“O erg está vivo”, disse Aïcha, professora reformada perto de Merzouga. “Não estamos a lutar contra ele. Estamos a convencê-lo a passar ao nosso lado.”
  • Espace as sebes de ramos entre 5 e 8 metros, desencontradas como escamas, para a areia assentar em degraus, não em dunas.
  • Prefira nativas resistentes—tamarisco, acácia tortilis, caligonum—para cortaventos vivos e duradouros.
  • Tenha sempre uma pá, tábua plana e cinta de reboque em cada veículo; conduza devagar e com pneus pouco cheios.
  • Use mapas gratuitos (por exemplo, imagens Sentinel) após tempestades para identificar novas línguas de areia perto dos trilhos.
  • Coordene com a sua comuna: trabalho conjunto desimpede caminhos mais depressa do que esforços isolados.

O quadro maior que não para quieto

A mobilidade é normal à beira do Sara. O que mudou é a velocidade que as pessoas sentem nos ossos, o ritmo a que um horizonte familiar se reorganiza antes de levar os filhos à escola ou de ir ao mercado. A lição aprendida nas aldeias é prática e estranhamente esperançosa: quando a paisagem acelera, as pessoas podem abrandar o seu próprio pedaço.

Seves de ramos, plantações inteligentes e alertas precoces não são grandes projetos. São pequenas soluções que se repetem, e compram tempo; tempo para os camiões passarem, para turistas seguirem por uma rota mais segura, para famílias dormirem sem arrastar sacos contra a porta. Nenhuma solução única vence o vento, mas um punhado de pequenas muda as probabilidades.

As autoridades estão a mapear pontos críticos, operadores turísticos mudam faixas de acampamento, agricultores reconstroem sebes que os avós juravam. O pânico do primeiro trilho soterrado cede a uma rotina que quase lembra coreografia. O erg move-se. Nós também.

Ponto-chaveDetalheInteresse para o leitor
Observe o vento, não só a areiaCiclos curtos e agressivos de rajadas estão a formar bordos de dunas rápidosDetete perigo horas antes de um monte bloquear o caminho
Barreiras baixas e permeáveis funcionamSeves e fileiras de tamarisco travam areia a montanteProteja portas, caminhos e campos sem grandes orçamentos
Pequenas rotinas vencem grandes pânicosVarredelas de dez minutos e grupos de vizinhos acumulam resultadosMantenha a calma, acesso livre e poupe energia

Perguntas Frequentes:

  • As dunas em Marrocos estão mesmo a mover-se mais rápido agora? Moradores, equipas rodoviárias e guias locais relatam movimentos mais rápidos e frequentes depois das últimas rajadas. As primeiras observações apoiam a perceção, embora faltem ainda estudos de longo prazo.
  • O que está a causar estas mudanças súbitas? Uma mistura de padrões meteorológicos, solos mais secos e crostas perturbadas junto a trilhos e povoações. Episódios de vento fortes e curtos podem empurrar bordos de dunas vários metros por dia.
  • Quais as áreas mais afetadas?Pontos críticos incluem as faixas perto de Merzouga (Erg Chebbi), extensões em direção a Erfoud e trilhos junto a M’Hamid e Zagora. A exposição varia de rua para rua conforme vento e cobertura.
  • Isto é alterações climáticas? Os cientistas são cautelosos. Alguns sinais—primaveras mais quentes, rotas de tempestade alteradas—enquadram-se em tendências globais, mas atribuir o ritmo de dunas de uma época precisa de mais dados.
  • Como podem viajantes e locais proteger-se?Consulte previsões de vento, leve sempre pá e cinta de reboque, baixe a pressão dos pneus em zonas moles e evite circular pelos declives das dunas. Seves de ramos e sebes vivas ajudam em casa.

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