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Pânico no Egito com luzes misteriosas a surgirem sobre as pirâmides durante tempestades noturnas.

Estrada molhada à noite com carros em frente a uma pirâmide iluminada pela lua, relâmpagos ao fundo.

O pânico espalhou-se pela noite do Cairo como eletricidade estática. Os telemóveis ergueram-se, os feeds explodiram, rumores solidificaram-se em minutos. Que luzes eram aquelas, e porquê agora, em plena tempestade?

Eu estava no anel viário quando surgiu o primeiro clarão, uma faixa branca e límpida no céu que transformou o planalto num cenário de teatro. O taxista desligou o rádio e apontou com toda a mão, como só se faz quando faltam as palavras. Depois surgiu o estranho — um orbe pálido pairando sobre Quéops, outro deslizando de lado, como se uma lanterna passasse atrás de vidro. O ar cheirava a pó molhado e ozono. Um miúdo com uma camisola do Barça gritava "Shuf! Shuf!" como se a palavra pudesse ancorar aquela coisa. As pessoas pararam a meio da passagem. O trânsito ligou os quatro piscas. Uma mulher murmureou uma oração, mas filmou na mesma. E então uma das luzes moveu-se contra o vento.

A noite em que Gizé parecia um feixe de linhas no céu

Os primeiros minutos pareciam uma discussão entre o céu e as máquinas. Três luzes a alturas diferentes, cada uma com um tom ligeiramente distinto — uma branca fria, uma com tonalidade esverdeada, uma a tremer como uma vela dentro de um frasco. Os relâmpagos cortavam o horizonte e as luzes nem pestanejavam, o que fez crescer o murmúrio. Não eram os típicos lasers potentes do espetáculo de luz e som habitual. Também não era um helicóptero — não havia batida, nem oscilações. As formas apareciam e desapareciam em cortes bruscos, como se alguém estivesse a editar uma bobina ao vivo.

Na banca de chá perto do portão da Esfinge, um segurança chamado Maher mostrou-me o ecrã: 21h37, um pico brilhante, depois um pequeno brilho a deslizar para norte, empurrado pelo vento que levava o pó para sul. Jurou que o clarão "respirava", pulsando suavemente como se tivesse pulmões. Um autocarro de turistas roncava, motor a vibrar como um animal pesado. À meia-noite os grupos locais já partilhavam dezenas de vídeos de Gizé, da Cidade Sexto de Outubro, até de um telhado em Imbaba. Alguns vídeos captaram um halo em forma de arco logo após um relâmpago. Outros mostravam pouco mais do que gotas de chuva e gritos. Nem todas as provas têm o mesmo peso quando tens a mão a tremer.

Existem nomes para luzes que se acendem durante as tempestades. Sprites — descargas elétricas de grande altitude sobre as nuvens — são reais e por vezes parecem águas-vivas. O “fogo de Santelmo” pode deslizar pelos mastros e metais, azul-fantasma e sem pedir desculpa. Os relâmpagos-esfera vivem entre folclore e física, reportados há séculos, ainda difíceis de apanhar. Depois há o zoo terrestre: drones de consumo em formação, rastos de longa exposição que transformam gotas de chuva em meteoros, reflexos de laser quando o pára-brisas faz de espelho. As pirâmides têm truques próprios: enormes blocos de pedra, nuvens baixas, mil fontes de luz a refletir-se em estranhas simetrias. O movimento "contra o vento" pode ser apenas paralaxe — o mundo a mover-se enquanto tu ficas parado.

Como analisar um vídeo viral do céu como um profissional

Começa por abrandar tudo. Pára a imagem mesmo antes da luz aparecer e procura referências fixas: um minarete, um letreiro néon, o ângulo de um candeeiro. Conta os segundos entre o relâmpago e o trovão para medir a distância. Depois segue o movimento da luz em relação a esses pontos de referência, não às nuvens. Se “salta”, observa as margens do fundo à procura de pequenos abanões — isso é mão a tremer, não teletransporte. Se conseguires, confirma datas e horas a partir de pelo menos dois ângulos distintos. Traça um triângulo mental. Triângulos pequenos vencem grandes rumores.

Todos já passámos por aquele momento em que sentido alerta e queremos acreditar no que os olhos veem, ponto final. O entusiasmo é real, partilhar é humano. As maiores armadilhas? O zoom destrói o contexto, gotas na lente criam rastos de cometas e o rolling shutter transforma relâmpagos em códigos de barras. Sejamos honestos: ninguém verifica tudo isto todos os dias. Por isso, faz simples — mantém a câmara com plano aberto durante uns segundos, diz em voz alta onde estás, respira, e só depois faz zoom lentamente. Um minuto de filmagem limpa vale por dez segundos trémulos.

Os especialistas com quem falei estavam calmos, mesmo quando os vídeos não estavam. Um meteorologista de Dokki disse que as camadas superiores da tempestade estavam “maduras para traquinices”, palavras dele, que apreciei pela sinceridade. Só pensava em como as pedras mais antigas do mundo ainda arranjam maneiras de nos surpreender.

“Tempestades elétricas são espetáculos em si mesmas”, disse a Dr.ª Salma Farouk, física atmosférica. “Elas esculpem o céu em palcos onde luzes comuns fazem coisas extraordinárias. O desafio é separar a eletricidade do céu da ilusão da lente.”
  • Filma em plano aberto primeiro, só depois faz zoom. Ancorar sempre o plano em pontos de referência fixos.
  • Regista a direção da bússola ou inclui no vídeo um horizonte que possas identificar.
  • Verifica se a luz coincide com os relâmpagos — o timing pode indicar um reflexo.
  • Compara dois vídeos captados de ruas diferentes para localizar a luz em 3D.

O que isto pode significar para o Egito — e para nós

O Egito veste o mito como uma segunda pele, e noites como esta tecem-lhe linhas novas. Os guias turísticos vão agora contar histórias de tempestades entre dinastias, e as crianças vão apontar para o planalto sempre que as nuvens se ajuntarem. Para as autoridades do Cairo, a questão maior é a confiança — como comunicar depressa, de forma clara, sem perder o encanto. O turismo vive do espanto, mas também depende da calma. Se as luzes forem naturais, há oportunidade para ensinar meteorologia ao vivo. Se forem humanas — drones, lasers, uma partida local —, é sinal para apertar regras nos locais históricos. Em qualquer caso, uma cidade e os seus símbolos foram lembrados de que não controlam o próprio cenário. Encontrou-se comunidade no escuro, narrando o céu a desconhecidos. Talvez seja isso o mais moderno num lugar tão antigo.

Ponto-chave: Verificar sem entrar em pânico — Manter plano aberto, procurar pontos de referência, comparar vários ângulos. Utilidade para o leitor: Evita ser enganado por ilusões rápidas.

Fenómenos naturais possíveis: Sprites, fogo de Santelmo, reflexos, paralaxe e longa exposição. Utilidade para o leitor: Dá respostas concretas antes de chamar “mistério”.

Contexto local: Planalto de Gizé, trovoadas raras mas intensas, espetáculos de luz já conhecidos. Utilidade para o leitor: Ajuda a distinguir o invulgar do habitual.

Perguntas Frequentes:

  • Quais são as explicações mais prováveis para as luzes? Resposta breve: fenómenos óticos relacionados com a tempestade, reflexos, ou fontes humanas como drones ou lasers. Fenómenos elétricos naturais podem ser impressionantes e muito convincentes.
  • Poderia ter sido relâmpago-esfera? É possível, embora seja raro e difícil de provar com vídeos de telemóvel. Procura se existe uma esfera luminosa que persiste e se move suavemente sem oscilações visíveis da mão a tremer.
  • As próprias pirâmides criam estas luzes? Não diretamente. As pedras não geram luz, mas a geometria e os sistemas de iluminação à volta do planalto podem refletir, dispersar e ampliar o que o céu já está a fazer.
  • É seguro visitar durante as tempestades? Sim, com bom senso. Mantém distância das grades e metais, evita lugares expostos e segue as instruções dos funcionários se algum evento for interrompido ou área for fechada.
  • Como posso filmar de forma responsável se vir algo semelhante? Fica fora da estrada, mantém o horizonte no enquadramento, diz o local e direção, partilha o vídeo original com data e hora. Segurança primeiro, história depois.

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