Um tranquilo beco sem saída. Um jardim à frente da casa. Uma nuvem de abelhas que fez casa no pequeno muro de tijolo. Uma chamada depois, ouviu-se o sibilo do spray — e os apicultores locais ficaram indignados.
No número 18, um homem de calças de fato de treino salpicadas de tinta estava com o telemóvel em alta-voz, a andar de um lado para o outro num retângulo perfeito de relva. Uma carrinha de controlo de pragas estava ligada, luzes a piscar. Os vizinhos espreitavam por cima das sebes. Alguém filmava da janela do quarto. Algo parecia errado.
Ao sol, as abelhas rondavam o alecrim e os gerânios, entrando por uma fenda entre os tijolos com uma urgência suave e ordenada. O autor da chamada engoliu em seco, escutou, acenou com a cabeça. Disse que o seguro não cobria “danos provocados por abelhas”. Disse que a câmara lhe disse que era da sua responsabilidade. Desligou o telefone. Olhou para a colmeia. Depois saiu o pulverizador.
Quando o zumbido encontra a burocracia
No papel, parece simples: o dono de casa tem o dever de cuidar, os vizinhos preocupam-se com picadas, o caminho de entrada precisa de estar seguro. Na vida real, é complicado. As abelhas não respeitam limites de propriedade, e o medo espalha-se mais rápido do que néctar em junho. O pânico de uns é a alegria de outros quando veem polinizadores. As abelhas estavam a polinizar as flores de todos. É uma pequena verdade que pode soar como acusação, sobretudo quando entram em cena uma carrinha, uma fatura e um prazo.
Pergunte por aí e ouvirá sempre o mesmo padrão sazonal: os enxames atingem o pico entre maio e julho, quando as colónias se multiplicam e grupos temporários aparecem em vedações, caixotes do lixo e arcos de roseiras. Mortes por picadas de abelha ou vespa em Inglaterra e no País de Gales são raras — tipicamente menos de cinco por ano, quase sempre ligadas a alergias graves — mas o medo de “um ataque” persiste. Entretanto, estima-se que o valor polinizador dos insetos para as culturas britânicas equivalha a centenas de milhões de libras anuais. Não é abstrato. São morangos, maçãs, feijões, colza.
Então, porque continua a aparecer o spray? A identificação errada é muito comum — abelhas melíferas e solitárias são muitas vezes confundidas com vespas. O acesso pode ser difícil num jardim frontal onde as pessoas passam junto ao muro. As seguradoras não querem riscos nos livros. Os profissionais de controlo de pragas têm licença para pesticidas, e alguns fazem qualquer serviço pedido, enquanto outros recusam erradicar abelhas por princípio. Não existe lei abrangente que proteja abelhas melíferas no Reino Unido, mas envenená-las com produto errado, ou num local impróprio, ainda pode ser ilegal. Fica um vazio moral — e muito visível.
Como lidar com uma colónia de abelhas no jardim da frente sem causar polémica
Comece por identificar. Observe a entrada à distância segura e filme um pequeno vídeo no telemóvel: corpos rechonchudos e peludos com cestos de pólen significam “abelha”, não vespa. Tome nota do local exato — buraco no tijolo, compostor, caixa de pássaros. Depois, ligue para a linha de enxames da associação britânica de apicultores ou um serviço de relocalização reputado. Peça uma visita ao entardecer ou de madrugada, quando há menos movimento. Faça uma barreira suave e temporária: duas canas de bambu e uma rede desviam as pessoas do corredor de voo.
Não corte a relva nem use o aparador perto do ninho. Mantenha animais de estimação em casa durante o pico de atividade e coloque um aviso simpático no portão a dizer que está agendada uma mudança ao vivo. Todos já tivemos aquele receio do que os vizinhos vão dizer. Mantenha tudo humano: um WhatsApp rápido ao grupo da rua pode transformar o ambiente de pânico em curiosidade. Seja realista com os prazos se as abelhas estiverem na alvenaria; pode ser preciso um construtor para abrir e selar novamente o local. Sejamos sinceros: ninguém faz isto todos os dias.
Matar abelhas raramente é a única opção. Muitas empresas de controlo de pragas não aceitam casos com abelhas a menos que um apicultor competente possa recuperar ou remover a colónia.
“Elas estavam a polinizar as flores de todos — é literalmente o trabalho delas,” disse Tom Wright, apicultor local que realoja enxames urbanos. “Podíamos tê-las mudado em menos de uma hora.”
Se precisa de uma lista prática para acalmar o caos, use isto como guia rápido:
- Grave 20 segundos de vídeo para identificação e envie ao apicultor.
- Marque a entrada com giz e mantenha 2 metros livres em redor.
- Feche portas e janelas voltadas para o ninho até à visita.
- Peça confirmação escrita de tentativa de remoção ao vivo antes de falar em pesticidas.
- Após a remoção, repare o ponto de entrada no próprio dia para evitar reinfestações.
O que este conflito diz sobre bairros, natureza e as regras do nosso dia-a-dia
Os jardins da frente são onde a vida privada encontra o sentimento público. A lavanda que atrai abelhas também puxa opiniões, e as regras misturam ética, seguros e hábito. Um homem com telemóvel ouviu “é da sua responsabilidade” e fez uma escolha que desagradou a quem se preocupa com insetos. Não é vilão; é um espelho. Há formas seguras e legais de os remover. Mas quando se juntam um prazo, preocupações com crianças e uma parede cheia de zumbido, preparação importa mais do que princípios.
Numa Grã-Bretanha mais quente e urbana, veremos mais colónias de abelhas em vasos, grelhas e pilares das varandas. A rua vai continuar a observar. A internet vai continuar a filmar. É possível um padrão mais calmo e barato: identificar, informar, relocalizar e reparar. Sem heroísmos, sem vergonha. E se mesmo assim alguém pegar no spray, talvez a pergunta não seja só “porque é que ele matou as abelhas?” Mas também “o que fizemos nós antes desse momento para tornar a escolha mais fácil e humana?”
| Ponto-chave | Detalhe | Interesse para o leitor |
| Relocalizar primeiro | Contacte os coordenadores de enxames da BBKA para remoção ao vivo ao entardecer ou de madrugada | Evita conflitos, protege polinizadores, reduz custos |
| Identificação correta | Vídeo curto e notas sobre a entrada distinguem abelhas de vespas | Evita exterminação desnecessária e deslocações em vão |
| Cuidados após remoção | Repare o ponto de entrada no próprio dia para evitar reinfestações | Evita problemas repetidos e custos extra |
Perguntas Frequentes:
- As abelhas estão protegidas por lei no Reino Unido? Não existe proteção legal generalizada para as abelhas melíferas. Utilizar pesticidas de forma imprópria ou causar danos à fauna protegida é ilegal, e a melhor prática é sempre tentar remover a colónia em segurança primeiro.
- E se alguém em casa for gravemente alérgico? Afaste essa pessoa da área, mantenha portas e janelas perto do ninho fechadas e solicite uma remoção urgente ao vivo. Se houver perigo imediato, ligue para os serviços de emergência, depois para um apicultor.
- Quanto custa uma relocalização ao vivo? Muitas recolhas de enxames são gratuitas ou de baixo custo com apicultores locais. Colónias dentro de edifícios podem exigir remoção paga e obras de reparação, que podem chegar a algumas centenas de libras.
- Como distinguir rapidamente uma abelha de uma vespa? Abelhas são mais peludas, carregam pólen amarelo nas patas traseiras e voam numa linha direta para uma entrada. Vespas são mais lisas, brilhantes e costumam pairar junto de comida ou caixotes.
- A câmara pode obrigar-me a remover abelhas? As câmaras podem pedir que trate de um perigo na sua propriedade, especialmente em áreas de muito movimento. Quase sempre recomenda-se contactar um apicultor em vez de recorrer à exterminação, salvo perigo sério e imediato.
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