A irritação da semana instala-se como areia no peito, cada conversa polida e ainda assim de alguma forma em carne viva, e as páginas do diário cheias de frases organizadas que não chegam ao nó. A Lua em Escorpião não gosta do que está arrumado. Chega como a maré debaixo de um cais iluminado pelas estrelas, escura, fria, honesta — e de repente aquilo que não conseguias dizer encontra finalmente saída, sem precisar de palavras.
Na noite em que pairou sobre a minha rua, o ar tinha um cheiro a metal molhado. Deixei o telemóvel virado para baixo na mesa da cozinha e fiquei a ver a luz mover-se num copo de água, como um pequeno mar a tentar crescer. Algures, o rádio de um vizinho murmurava uma canção antiga, e o baixo encontrou as minhas costelas. Não estava triste. Não estava feliz. O meu corpo decidiu antes de mim. Uma lágrima caiu no meu pulso, quente como chá. Algo mais antigo estava em movimento.
Porque é que a Lua em Escorpião corta mais fundo
Escorpião é água, mas não do tipo postal — é mais estuário do que piscina infinita. Quando a Lua passa por lá, a maré chega aos lugares onde guardamos coisas: o maxilar, o ventre, os pequenos bolsos atrás do coração. Dizem que é intenso porque não passa à superfície. Esta Lua não acalma; ela desnuda. Não por crueldade, mas como a chuva que devolve a verdade ao passeio.
No último outono, a minha amiga Maya foi sentada na District Line com um rosto de inverno. Sem crise, sem drama, apenas duas paragens do apartamento dela e um nó na garganta que não saía. Chegou a casa, preparou um banho com um punhado de sal e leu uma mensagem que nunca tinha enviado a alguém com quem jurou ter terminado tudo. Não enviou. Chorou durante nove minutos, depois comeu uma torrada e dormiu profundamente. No dia seguinte apagou o rascunho sem cerimónias. O alívio foi estranhamente físico, como desapertar um soutien apertado à meia-noite.
As palavras são brilhantes para separar o pensamento do ruído. São desajeitadas para mover a mágoa do corpo para o fluxo. A Lua em Escorpião sugere outro caminho: primeiro a sensação, depois a narrativa. Há sentimentos que só afrouxam o aperto quando deixamos de discutir com eles. Astrologicamente, tem um sabor Plutão-Marte — submundo encontra movimento — o que quer dizer “ir ao fundo, depois atravessar”. É menos sobre entender e mais sobre metabolizar. Deixamos o corpo lavar o que a mente foi arquivando. Silenciosamente radical.
O que fazer numa noite de Lua em Escorpião
Dá-te um recipiente simples. Vinte minutos, luz suave, algo quente por perto. Enche uma taça com água e uma pitada de sal, e senta-te com os pés no chão. Respira contando até quatro a inspirar, e seis a expirar, dez ciclos. Escreve três verdades que nunca disseste em voz alta. Dobra o papel e queima-o (em segurança) ou mergulha-o na água até a tinta se desfazer como nuvem. Podes começar pequeno e mesmo assim ser genuíno.
Mantém o ritual físico, não performativo. Não entres em análises; não estás a escrever memórias. Bebe água. Não faças scroll infinito, não envies mensagens ao ex, nada de arrumações administrativas à meia-noite. Sejamos honestos: ninguém faz isto todos os dias. Faz uma vez esta semana e vais sentir. Todos já tivemos esse momento em que o sentir é maior do que a frase. Deixa o sentir ser maior. A frase pode esperar pela manhã.
Âncora a libertação com um gesto final. Troca de T-shirt. Abre a janela durante dois minutos, mesmo que esteja a chover. Nomeia o que sai, sem explicar porquê. Depois, continua a tua noite como uma pessoa normal que acabou de lavar as mãos.
“Não precisava das palavras certas”, disse-me a Maya depois. “Precisava era da porta certa.”
- Mantém um pequeno “kit lunar”: vela tealight, fósforos, pacote de sal, caneta, cartões de notas.
- Põe um temporizador para 12 minutos. Para quando soar, mesmo a meio de uma lágrima.
- Escolhe uma música que te alivie o peito, não que te quebre.
- Depois, come algo que te aterre: pão torrado, banana, sopa quente.
- Dorme com fronhas lavadas. Quando acordares, toma banho e sai à rua dentro de uma hora.
Depois da maré, o quarto sente-se diferente
O mais estranho não é o choro nem o ritual; é o silêncio que vem depois. Os quartos mudam depois de uma tempestade. Vais reparar que o email que antes te apertava agora soa apenas a tarefa que tens para fazer. Vais passar no café onde morava uma discussão antiga e sentir-te apenas um transeunte. A verdadeira mudança raramente é fotogénica. É como dar por um nó no ombro e perceber que desapareceu. Uma noite de Lua em Escorpião não resolve a tua vida. Pode destravar a engrenagem para que a vida siga. Partilha com alguém que entenda, ou guarda para ti e deixa o dia levar o resto. Há uma estranha dignidade nisso.
| Ponto-chave | Detalhe | Interesse para o leitor |
| Escorpião = profundidade | Signo fixo de água que traz emoções escondidas à tona | Explica por que os sentimentos se intensificam e como navegar por eles |
| Ritual vence ruminação | Passos simples e físicos mudam o estado mais rápido do que pensar demasiado | Oferece uma porta prática quando as palavras emperram |
| Fechar e aterrar | Termina com um gesto, comida e sono para selar a reinicialização | Previne ressaca emocional e mantém o dia funcional |
Perguntas frequentes:
- O que é exatamente a Lua em Escorpião? São cerca de dois dias e meio por mês em que a Lua transita Escorpião. O ambiente tende para a intensidade, honestidade e sentimentos de limpeza profunda, em vez de conversa superficial.
- Preciso de ser Escorpião para isto funcionar? Não. O trânsito define um clima coletivo. Vais senti-lo à tua maneira, mas a “vibe de lavar em vez de racionalizar” está disponível para todos.
- Há alguma base científica nisto? A astrologia é um sistema simbólico, não um resultado laboratorial. O que aqui é prático é o método corpo-primeiro: respiração, ritual e mudanças de ambiente podem alterar o estado, e isso muitas vezes transforma até a história.
- E se eu não chorar — fiz mal? Chorar não é o padrão de ouro. Bocejos, suspiros, pele arrepiada, diminuição da tensão nos ombros — tudo isto são libertações também. Se te sentires só um pouco mais leve, já conta.
- Há algo a evitar numa noite de Lua em Escorpião? Grandes confrontos, enviar mensagens embriagado, e reviver fotos antigas às 1h da manhã. Guarda as conversas para o dia seguinte, quando a maré tiver voltado e as tuas palavras estiverem mais limpas.
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